Há uns dias que no Abrupto se vem publicando uma série de recortes da censura do outro tempo, em que semi-analfabetos (atendendo à ortografia exibida) descreviam as notícias que cortavam, com sintético fundamento (imoral, sugestivo, anti-católico, etc…); para grande surpresa minha (ironia, ironia…), parece que já na altura Portugal era um País normal: pessoas que pensavam, que punham em causa o regime estabelecido e os regimes que o Regime estabelecia, suicidas, homicidas e, até,trocadilhos de índole sexual (falo agora da referência aos tumultos provocados pela chegada de Greta Garbo a uma cidade e o comentário «Oh, senhores, não há maneira de deixarem a Greta em paz!»).
Todavia, simultaneamente são publicados os famigerados retratos do trabalho daquela época, fotografia a preto e branco imaculada, sorrisos para a câmara, composições cuidadas, tudo muito tipo «Aldeia da Roupa Branca».
Coisas.
(eu tinha de publicar qualquer coisa, até porque o facto mais marcante de hoje aconteceu à noite no supermercado, observando uma persistente e compulsiva tacteadora de pão, que devia ser cega tal a força com que se agarrava às baguetes, saltando-lhe eu à frente e salvando um saco de pãezinhos daquelas pinças afiadas com um «desculpe, minha senhora, mas não preciso que me apalpe as bolas»).
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